terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Mais Gozar na Toxicomania

Gostaria de dizer que esse trabalho eu apresentei no I Congresso Nacional de Psicanálise, realizado pela Universidade Federal do Ceará, em maio de 2001.
Foi o resultado do trabalho do DEA que fiz na França e continua como parte de minha pesquisa do doutorado num contínuo caminhar.
Plus-de jouir, mais-de-gozar ou mais gozar?
Segundo o dicionário de Psicanálise Larousse, sob a direção de Chemama, plus-de-jouir é um neologismo criado por Lacan “para designar por homologia com a mais-valia, a função estrutural à qual se reduziria geralmente o gozo e que constitui um dos modos de apresentação do objeto a.”
Pensamos que por se tratar de um neologismo, em nossa língua portuguesa, seria mais correto tratarmos por mais gozar, visto que não usamos esse “de”, por exemplo, para falarmos da mais valia e que esse de não altera em nada o sentido na língua portuguesa.
Lacan, no Seminário “De um Outro ao outro”, em 13 de novembro de1968, diz que vai introduzir a propósito do objeto a, o lugar onde iremos situar sua função essencial. “É no discurso sobre a função da renúncia ao gozo que se introduz o termo do objeto a.”
Lacan chama atenção para o lugar no qual Marx situa o trabalho. Não que o trabalho seja uma coisa nova, mas que haja um mercado de trabalho; que ele seja comprado. É isso que vai permitir a elaboração da mais-valia. O trabalho não era novidade na produção de mercadoria como, também, não era novidade a renúncia ao gozo. O novo é haver um discurso que articule a renúncia e que faça aparecer a função do mais gozar, porque é aí que se encontra a essência do discurso analítico. Essa função aparece pelo fato do discurso ser um efeito dele mesmo, e vem demonstrar que é pela renúncia ao gozo que ele surge. O discurso detém os meios de gozar enquanto que ele implica o sujeito. É importante supor que no campo do Outro exista esse mercado. Estranha forma de inaugurar o “mercado” do gozo no campo do discurso.
A produção do objeto a, se dá em torno do mais gozar.
Chemama, em seu texto “Um sujeito para o objeto” de 1997, no livro Goza: capitalismo, globalização e psicanálise de Goldenberg, faz referência ao discurso do Mestre e diz que a disjunção entre S/ e a, pode servir num segundo tempo de introdução à questão da constituição do sujeito. O ser humano porque fala, não tem acesso direto a seus objetos, encontra sua satisfação na própria cadeia significante através dos sonhos, atos falhos, lapsos, etc.. Ele continua, dizendo que há uma segunda leitura essencial a ser feita :” um sujeito, barrado pelo fato de que fala, vê-se representar por um significante junto a outro significante, o que não acontece sem a queda de um objeto, o objeto a”.
É a castração que organiza o discurso do mestre, tanto na realidade psíquica quanto na realidade social. Lacan , fala sobre a produção da mais valia a partir do discurso do mestre. Anos depois ele introduz o discurso do capitalista:
Discurso do mestre Discurso do capitalista
S1 S2 S/ S2 ______ // ______ ____ ____ S/ a S1 a
No discurso do capitalista não há separação entre sujeito barrado e a. É como se nesse discurso houvesse uma tentativa de evitar qualquer separação entre o sujeito e o objeto.
Na toxicomania o objeto de gozo não é metaforizado, não é regido pelo significante, por isso o toxicômano fica escravo da droga, em busca desse mais gozar, um gozo sem interdito.
Charles Melman, em seu texto “Alcoolismo e toxicomania: uma abordagem psicanalítica” de 1993, fala que nós vivemos em um tipo de economia que chamamos “economia de mercado” e que a troca é susceptível de garantir a felicidade, a felicidade de cada um. Ele lembra ainda que um dos objetivos da economia de mercado é tornar as pessoas dependentes dos produtos consumidos. É um alerta para a questão do social. A sociedade capitalista impulsiona o consumismo. Na esfera das relações interpessoais como na da troca econômica o ideal consumista se prevalece da crença num objeto de direito sempre disponível, com a condição de poder comprá-lo, num gozo Outro, sem interdito. É o objeto do toxicômano, as drogas de toda espécie que nossa sociedade multiplica e diversifica.
Nosso modo de gozar e principalmente o gozo sexual é marcado por uma insatisfação permanente. Freud no texto “O mal estar na cultura”, de 1929, fala que os seres humanos estão sempre em busca da felicidade. Sobre as drogas, diz que os métodos mais interessantes para a prevenção do sofrimento são os que tendem a influenciar nosso organismo. O método mais eficaz para exercer tal influência é o método químico da intoxicação. A presença de substâncias estranhas ao corpo, no sangue e nos tecidos, modifica as condições de vida e provoca as sensações de prazer imediatas. Essas propriedades dos entorpecentes constituem precisamente seu perigo e sua nocividade. É na toxicomania e no alcoolismo que podemos observar o gozo ilimitado, sem barra, na busca de um objeto capaz de assegurar uma felicidade plena. A droga afasta o gozo sexual, o que não acontece com o alcoolismo. Geralmente, o toxicômano não se sente incomodado por não experimentar mais desejo ou impulso sexual. Todos nós temos nossas dependências porém sempre estão no sentido de uma proteção e conservação de nossa vida, é o que vai diferenciar da dependência tóxica, química, que levam o alcóolico e o toxicômano a ultrapassarem esse limite.
Lacan diz que o discurso detém os meios de gozar enquanto implica o sujeito.
Marie-Christine Laznik, em seu texto “La mise en place du concept de jouissance chez Lacan”, 1990, na Revue Française de Psychanalyse, fala que Freud coloca o gozo em termos pulsionais. É a libido dessa pulsão insatisfeita que dará a energia do super eu, quanto mais o sujeito renuncia a esse gozo mais terá a libido para nutrir o seu super eu.
Fica uma questão: no caso da toxicomania será que essa libido da pulsão está plena, satisfeita, daí não vai energizar o super eu?
Marie Christine Laznik continua dizendo que se o laço social se funda sobre a renúncia a satisfazer a pulsão, é que esta implica o gozo de objetos que poderiam pertencer a outros, ou seja os privar de seu gozo. Isso situa o gozo no campo do outro. Eis o semelhante introduzido na questão do gozo, e com ele a questão da religião, dos mandamentos, e, portanto, da lei. Ela continua dizendo que tudo isso já está em Freud, e que ele se interrogou longamente sobre um mandamento da lei de Moisés, aquele que ordena amar o próximo. Lacan segue o que está implícito em Freud e funda o gozo sobre a lei.
Lacan chama atenção que se o gozo consiste em forçar a barreira do principio do prazer, se uma transgressão é necessária para aceder ao gozo, é a letra mesma do interdito que permite que este gozo encontre um caminho. Marie Christhine, cita, ainda, a alusão que Lacan fez a uma passagem de São Paulo na Epístola aos Romanos que visa mesmo esta articulação quando ele diz:” O que quer dizer ? Que a lei é o pecado(desejo) ? Certamente não ! Eu conheci o pecado ( desejo) somente pela lei. E, de fato, eu teria ignorado a cobiça se a lei não tivesse dito : tu não cobiçarás. Mas, aproveitando a oportunidade, o pecado(desejo) por meio do( mandamento )princípio produziu em mim toda espécie de cobiça : porque sem a lei o pecado (desejo) está morto". Lacan cita essa passagem trocando simplesmente pecado por desejo.
A droga e o ser humano
Michel Tibon-Cornillot, em seu artigo "L’état toxique" na revista "Le trimestre psicanalytyque" de 1997, fala da dificuldade de definir a droga e diz que tóxicos, drogas, psicotrópicos e entorpecentes são termos que designam não apenas os produtos e as práticas, mas veiculam, além disso, julgamentos de valor. A própria medicina na busca de pesquisar medicamentos que curem as doenças está na origem da descoberta das drogas.
A droga é um objeto fixado ao funcionamento para perverter e levar a desviar de sua função inicial.
O conjunto dos antropólogos, etnobotânicos, neurofisiologistas, todos formados na disciplina do espírito cientifico, ligam os rituais do xamanismo a um dos movimentos mais fundamentais e mais antigos dos hominídeos no seio das sociedades não industriais na sua busca de dar sentido à vida humana. Tibon-Cornillot fala ainda que entre esses especialistas das religiões, das culturas ou dos vegetais psicotrópicos, devemos deixar a palavra a Peter T. Furst, um dos maiores pesquisadores em antropologia dos Índios contemporâneos do México quando afirma que há milenários as plantas psicodélicas são a parte integrante da bagagem da humanidade; além disso, elas tiveram um lugar de primeira importância na ideologia e na prática religiosa dos povos em toda a superfície do planeta e ainda hoje ocupam um lugar em certas culturas tradicionais.
O xamanismo, que deu origem ao nascimento de muitos cultos, entre os quais as grandes religiões mundiais, provém do coração do paleolítico. A prática do xamanismo remonta há mais ou menos 100.000 anos.
Em 1884, Freud descobre na planta coca e em seu alcalóide, cocaína, propriedades medicamentosas contra as mais diversas doenças. Ele mesmo faz uso da cocaína e declara que ela aumentou sua capacidade de energia e de resistência.
Escreveu um trabalho sobre a droga em julho de 1884 e a forma poética que deu a seu texto despertou a curiosidade científica da época. Ele utilizou sempre os mesmos termos em seus trabalhos: estimulante, euforia normal, capacidade de trabalho aumentada, etc.
Nessa ocasião, Freud foi reconhecido como pesquisador ficando seu nome ligado à cocaína.
Jean Paul Descombey em seu texto “ “Tâche aveugle et tentation chimique de Freud” na revista “Le trimestre psychanalytique” de 1997, diz que Freud fez ao mesmo tempo papel de juiz e parte, visto que suas publicações foram baseadas em suas auto observações e ele tratou sua “neurastenia” como ele se auto diagnosticava, pela cocaína. Os fracassos foram sempre atribuídos à má qualidade do produto, da mesma forma que falam os toxicômanos. Ele negava a dependência que a cocaína provoca.
Convencido, ele tentou influenciar Martha a fazer uso da cocaína alegando que iria lhe dar uma boa aparência. O mesmo acontece em relação aos amigos e colegas. Von Fleischl, por exemplo, que era admirado e invejado por Freud, recebe a indicação do mesmo para o uso da cocaína a fim de curar a sua morfinomania e o resultado é desastroso: morre com sofrimentos atrozes. Freud comete muitos erros e lapsos, dom por dose, esquece na sua lista de trabalhos o texto onde ele elogia as injeções e coloca nessa data seu texto inicial de 1884. Todos os erros quando lhe são assinalados, provocam sua irritação e ele não os corrige nas reedições da “Interpretação dos sonhos.”
Sem criticar a cocaína, ele a recomenda a Fliess que a utiliza contra suas dores, as aplica sobre as mucosas nasais depois da cauterização desastrosa dos cornetos de Freud, e trata assim suas neuroses nasais reflexas. Juntos, eles curam com cocaína suas dores de cabeças respectivas.
O dom da cocaína dado a Fleiss, resulta na expulsão do maternal em sua auto análise.
Em 1886 a cocaína se apresenta como o terceiro flagelo da humanidade. Nessa época o uso da coca nos E.U. era corrente e incontrolável até sua interdição em 1906.
O humor e a toxicomania
O bom humor, de origem endógena ou tóxica, diminui as forças de inibição, a crítica em particular, e torna por isso, de novo abordáveis as fontes de prazer, onde a repressão fechava o acesso. É importante notar como a exaltação do humor nos torna pouco exigentes em relação à qualidade de espírito. É que o humor completa o espírito assim como o espírito deve se esforçar para completar o humor que oferece as possibilidades de gozo habitualmente inibidas e entre estas o prazer do absurdo.
No texto « O Humor » de 1927, Freud diz que o humor tem algo de liberador e possui também o triunfo do narcisismo, afirmando portanto a invulnerabilidade do ego. O ego se recusa a sofrer por conta das provocações da realidade. Ao contrário, faz dos traumas do mundo externo ocasiões para obter prazer. Essa propriedade constitui um aspecto fundamental do humor. O humor é rebelde. Podemos observar que as duas principais características do humor : demência da realidade, afirmação do princípio do prazer, aproximam o humor dos processos regressivos ou reativos que tanto nos atraem na psicopatologia.
Enquanto que meio de defesa contra a dor, ele se coloca na grande série dos métodos que a vida psíquica do homem tem construído visando se desviar do constrangimento da dor, série que se abre para a neurose e a loucura e abraça igualmente a embriaguez, a auto-absorção, o êxtase. O humor deve a essa relação uma dignidade que falta totalmente, por exemplo, aos chistes, porque esses têm simplesmente por objetivo, obterem uma produção de prazer, ou essa produção, ser colocada a serviço da agressão.
A mudança de humor é uma das maiores atrações que o ser humano encontra no álcool e. por isso é tão difícil a maioria das pessoas renunciarem ao alcoolismo.
Alcoolismo e toxicomania
Qual a diferença entre o alcoolismo e a toxicomania? Segundo Charles Melman em seu livro “Alcoolismo, delinquência, toxicomania”, de 1992, no alcoolismo o objeto almejado nesse gozo infinito, é o falo, e isso podemos constatar na clínica tão falicizada do alcoolista. No toxicômano a grande diferença é que não é o objeto fálico que está em causa, justamente por isso eles nos parecem tão estranhos e não são bem aceitos pela sociedade. O alcoolismo é bem tolerado socialmente, fica sempre no registro da patologia, como alguém que não para diante do que faz limite, do que faz barreira. No alcoolismo, o falo, é um objeto ao qual são atribuídas qualidades viris, a economia psíquica nos é familiar.
A droga, objeto Real, introduz o Sujeito em um mundo virtual, fora do caráter fundamentalmente decepcionante do simbólico. A toxicomania aparece como a pulsão interativa à experiência da barra, a droga vem barrar o domínio do desejo do Outro. Quando os toxicômanos estão bem drogados eles dizem que estão completamente barrados.
Às vezes as drogas são utilizadas como objeto de adição. Segundo Joyce MacDougall o termo adição vem para substituir toxicomania. A autora emprega o termo de adição para os casos onde o objeto é percebido como bom e também como o que dá sentido à vida. Será utilizado na ilusão de substituir as dificuldades da vida cotidiana. Ela nos apresenta algumas hipóteses concernente a solução aditiva à dor mental, argumentando por exemplo que a relação mãe-bêbe é decisiva para o modo de organização do funcionamento psíquico. Uma mãe, seguindo seus próprios desejos inconscientes, pode provocar em seu bêbe uma relação aditiva à sua presença e a seus cuidados. A criança não é capaz de desenvolver seus próprios recursos psíquicos diante das situações perigosas, ela está na impossibilidade de fazer face aos perigo e por isto necessita da presença da mãe.
Freud, ainda no texto “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” de 1905, fala da importância das primeiras relações mãe-bêbe e de como ela se origina dos sentimentos dessa mãe com a sua própria sexualidade. É através dessa relação que ela vai ensinar seu filho a amar, a ser uma pessoa forte e capaz de enfrentar as dificuldades. O excesso de mimo na criança pode torná-la incapaz de lidar com a falta de amor ou com uma pequena quantidade dele. O que se passa nessa relação que impossibilita essa criança de crescer e enfrentar as dificuldades da vida?
Bergès e Balbo em seu livro "A criança e a Psicanálise", 1996,dizem que o falo é nomeado “significante da falta no Outro” e que em uma apresentação topológica, o lugar do Outro encontra-se furado e as bordas que delimitam e formam esse buraco, são exatamente o lugar da circulação de objetos e de gozo, que fazem o suporte das trocas significantes entre a mãe e o filho. É pelo objeto voz que se pode dizer que a mãe está no lugar do Outro. A voz situa-se do lado dos objetos a e também como vetor, pela palavra, dos significantes da mãe. A mãe não fala apenas em voz alta mas é por meio da voz que ela usa o significante (supereu) que interdita o transbordamento do funcionamento, opera como limite ao gozo. “Uma mãe que não se situa senão no dom e não na troca,” não pode reduzir o transbordamento de seu filho visto que ela mesma está fora da função fálica e por conseguinte fora de sua lei.
Na toxicomania o gozo está fora.
A toxicomania e o social
As toxicomanias são um sintoma do social? Podemos falar de sintoma social enquanto dado que a toxicomania está inscrita, de certa forma sub-jacente, quer dizer não explícita, em um discurso dominante de uma sociedade em uma determinada época, onde prevalece o ideal consumista, como nos diz Melman?
Tratando-se de um sintoma, manifestação do inconsciente, é sem dúvida, porque esse sintoma vem dizer uma verdade, verdade que nós conhecemos e tem origem no mal-estar da cultura.
No discurso do mestre podemos observar que pelo fato do sujeito ser barrado pela fala, ele vê-se representar por um significante junto a outro significante com a queda do objeto a. Já no discurso do capitalista parece uma tentativa de Lacan dar conta desse capitalismo contemporâneo. Ao contrário do discurso do mestre, não há barra entre S/ e a, é como se evitasse qualquer separação entre o sujeito e o objeto.
Será que o uso de drogas está ligado à confrontação entre dois gozos, um gozo confrontado à castração, fálico, limitado e outro gozo que Lacan descreve como gozo feminino, que ultrapassa os limites, conduz ao delírio, à ilusão, à morte?
Lacan, em 1946, no texto "Propósitos sobre a causalidade psíquica", nos Escritos, nos fala de como Freud foi brilhante tendo a intuição de notar a importância psíquica dos primeiros jogos das crianças, esconde-esconde, etc. nesses jogos Freud cita o exemplo do Fort-Da. Ninguém podia imaginar a importância de seu caráter interativo, da repetição, em relação a toda separação do objeto amado, incluindo o desmame. Esse processo vai estruturar todo o desenvolvimento psíquico, com a possibilidade de renúncia. No final desse desenvolvimento nós encontramos a ligação do Eu (Moi) primordial, essencialmente alienado, e o sacrifício primitivo essencialmente suicida, quer dizer a estrutura fundamental da loucura. Essa discordância entre o Eu (Moi) e o ser , será o que vai dar o tom fundamental ao longo das fases da história psíquica, onde a função será a resolução do desenvolvimento. Toda resolução dessa discordância terá um eco nas profundezas do imaginário da agressão suicida narcísica. Rapidamente essa miragem que acontece, por exemplo, na intoxicação orgânica, pode representar o papel de uma aparente liberdade.
Lacan, no Seminário de 13 de maio de 1959 sobre "O desejo e sua interpretação", diz que a coisa freudiana é o desejo e que o desejo nós não podemos considerar como normalizado, reduzido, ao contrário o desejo é agitado, atormentado. Após a articulação analítica feita por Freud, o desejo se apresenta com as características de Lust. Em alemão essa palavra conserva toda sua ambivalência de prazer e desejo. Lacan fala também da questão do desejo no seminário de 3 de junho de 1959 e enfatiza a insatisfação do desejo, que esse mal da cultura é exatamente o mal do desejo.
Conclusão
Podemos concluir que a toxicomania é um modo de vida onde o sujeito foge do mundo, ele não suporta mais a irrupção de afetos opressivos e vai em busca desse mais gozar, gozo pleno, sem limite e sem barra que o conduz à morte.
A toxicomania faz parte da tendência psíquica à pulsão de morte, o que está em permanente representação nos jogos da criança, o sujeito passa a ser comandado pelo objeto, ele não o domina mais. Freud foi muito sábio quando trouxe o For-Da e toda importância dos jogos infantis na separação do objeto, isso vale para o desmame.
Ao nível da subjetividade, ela vai depender do caráter efetivo das operações incluídas na castração e ao nível do social, ele passa a reencontrar no real o objeto perdido do gozo.
Trata-se de um sintoma do desejo que vai refletir no sintoma do social.
Talvez fosse interessante retomarmos um dito de Marx “ a produção não cria somente um objeto para o sujeito mas um sujeito para o objeto.”
Será que tudo isso nos leva a repensar por que a toxicomania ficou ausente durante anos da clínica psicanalítica? 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário